ARTIGO: A importância sócio-econômica do Canal do Pomonga

23/04/2015 00:17

RESUMO

Com 32 Km de extensão e 1.30 m de profundidade o Canal do Pomonga foi fruto de uma lei provincial datada de 16 de março de 1835 que autorizava o Presidente da Província a abrir um canal através do Pomonga, ligando os rios Sergipe ao Japaratuba. Estudar nos dias de hoje o Canal do Pomonga, na sua perspectiva sócio-eonômica, nos dá uma possibilidade de compreender, ainda que sem procurar esgotar o tema (emblemático e cheio de atalhos para outros estudos) a sua importância sócio-econômica no contexto das transformações bastante visíveis que esta região do litoral. Fala-se muito na recuperação da condição de navegabilidade do rio para implantação do ecoturismo, associado ao projeto desenvolvimentista e urbanístico que tem sido defendido para a região.

Palavras-chaves: Canal do Pomonga, História, Geografia, Economia

 

ABSTRACT

With 32 Km long and 1.30 m deep Pomonga the Canal was the result of a provincial law dated March 16, 1835 which authorized the President of the Province to open a channel through Pomonga linking rivers to Japaratuba to Sergipe. Studying these days the Canal Pomonga in its socio-economic, gives us a chance to understand, even without trying to exhaust the topic (symbolic and full of shortcuts to other studies) their socio-economic importance in the context of changes quite noticeable that this coastal region. There is much talk in the recovery of the river navigable condition for implementation of ecotourism, and associated urban development project that has been advocated for the region.

Keywords: Canal Pomonga, History, Geography, Economics

1 Licenciado em História. Estudante da Especialização em Gestão de Recursos Hídricos (UFS). Mestrando em Ciências da Educação (Universidad San Carlos/Assuncion). Ex-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Japaratuba. claudomir21@bol.com.br

2 Licenciada em Geografia (UNIT). Professora nas instituições Colégio CEME e Colégio Nossa Senhora da Glória (Nossa Senhora do Socorro). Carina_tavaresbispo@hotmail.com

 

1. INTRODUÇÃO

O Canal do Pomonga pela sua importância histórica e econômica, tem sido considerado um elo fundamental de ligação entre os rios Sergipe 3 ao Japaratuba. Fazia parte de uma estratégia de “ligar no século XIX os rios Real ao São Francisco através de canais”. 4

Com 32 Km de extensão e 1.30 m de profundidade 5 o Canal do Pomonga foi fruto de uma lei provincial datada de 16 de março de 1835 6 que autorizava o Presidente da Província a abrir um canal através do Pomonga, ligando os rios Sergipe ao Japaratuba.

Justificava tal esforço o escoamento da produção do açúcar em nossos vales. Ao longo dos seus 159 anos 7 o Canal do Pomonga cumpriu uma função de tamanha grandeza. Foi uma das principais vias de transporte de produtos e de passageiros e até início da década de 80 do século XX servia de importante canal de comunicação entre os povoados Canal de São Sebastião e Touro, ambos localizados no município de Barra dos Coqueiros, com a capital Aracaju, deslizando em seu leito balsas e canoas tipo “tó-tó-tós” (embarcação que ainda hoje faz o transporte de passageiro entre as cidades de Barra dos Coqueiros e Aracaju) que transportavam coco, casca de coco para as fábricas do Bairro Industrial, trazendo mercadorias para abastecer as “bodegas”8 daquelas comunidades.

Nas procissões fluviais do povoado Aguada (Carmópolis), dia 1º de janeiro e do Canal de São Sebastião (Barra os Coqueiros) 9 em 20 de janeiro vinham várias canoas de Barra dos Coqueiros e barcos de pesca de Pirambu para levar os santos que motivavam as festas e os fiéis nos leitos do Canal do Pomonga e Rio Japaratuba.

 

2. MAIS QUE UM ELO DE LIGAÇÃO

Dirigido pelo matemático Manuel da Cunha Galvão10, o “Projeto de um canal de navegação entre o Rio Japaratuba, e o Rio Pomonga”, assinado pelo engenheiro civil Euzébio Stevaux,11 teve as obras visitadas as obras do Canal do Pomonga e Japaratuba receberam a visita do Imperador D. Pedro II em 16 de janeiro de 1859.

“Na galeota percorreu S. M. todo o canal existente entre o Pomonga e Japaratuba, fazendo minuciosas reflexões a respeito da direção deste canal, e comparando-a com a do outro projetado. Já no Pomonga, no lugar denominado Angelim entrou S. M. no Pirajá, para onde se passou com a sua comitiva, dirigindo–se ao Aracajú, onde desembarcou as 6 horas da tarde.” (SANTOS, 2005).

Em suas várias etapas de existência, tem sido o Canal do Pomonga um instrumento imprescindível para a atividade pesqueira, o que, segundo informações dos próprios pescadores tem diminuído de forma acentuada ao longo das duas últimas décadas do século passado em função de uma série de agressões antrópicas.

 

[Imagem Indisonivel]

Figura 1: Canal do Pomonga, povoado Touro (Barra dos Coqueiros)

Foto: Claudomir Tavares, em setembro de 2005

 

Por estar nas proximidades de Aracaju, numa região de manguezais e de presenças constantes de loteamentos e de viveiros de camarão, fruto da atividade conhecida como carcinicultura,12 o Canal do Pomonga tem sofrido com a diminuição do caranguejo, 13 o que tem imposto aos catadores do crustáceo na procura de novas perspectivas de sobrevivência, com o desmatamento do mangue não para retirada da madeira antes utilizada para reconstruir casas de pescadores, lenhas para as panificações, estacas para cercar as várias propriedades, mas para a implantação de aterros para os loteamentos (horizontalizados) e condomínios (verticalizados) que crescem de forma desordenada, já nas proximidades da cidade de Barra dos Coqueiros, expandindo-se nos últimos anos para os povoados em toda extensão do município.

 

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Figura 2: Planta do Loteamento Rio Pomonga, no povoado Canal

Fonte: Gonzales Imobiliária, em 22 de março de 2013

 

Os loteamentos tem sido uma constante também ao longo de toda a faixa litorânea, localizada entre o Oceano Atlântico e o Canal do Pomonga, principalmente nas proximidades no trecho compreendido entre os povoados Jatobá e Touro, provocando o êxodo das comunidades que historicamente tem habitado o local – um processo migratório forçado.

Este não é um processo isolado, está associado com algo que acontece em escala global, e que também tem feito “estragos” nas comunidades que se constituíram ao longo do Pomonga. É, nesta perspectiva, reflexos da globalização que tem afetado parcelas cada vez maiores em escala mundial. Milton Santos afirma que “... o aumento da produção e o desenvolvimento de técnicas avançadas, um pequeno grupo de empresas as seqüestrou. As corporações usam estes recursos extraordinários em seu próprio benefício e em prejuízo da humanidade”. 14

Para ele “nenhum subespaço do planeta pode escapar ao processo conjunto de globalização e fragmentação, isto é, individualização e regionalização”. 15 Assim, ele procura apontar a questão da região como algo que não e pode dissociado restante, do todo.

 

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Figura 3: Parque Estadual das Dunas, entre os povoados Jatobá e Touro

Foto: Canoa de Tolda, em maio de 2013

 

Estudar nos dias de hoje o Canal do Pomonga, na sua perspectiva sócio-eonômica, nos dá uma possibilidade de compreender, ainda que sem procurar esgotar o tema (emblemático e cheio de atalhos para outros estudos) a sua importância sócio-econômica no contexto das transformações bastante visíveis que esta região do litoral Norte tem sido cenário nos últimos anos, é um elemento necessário para provocar uma discussão à cerca dos impactos que tem gerado os últimos projetos de desenvolvimento destacados para o faixa de terra compreendida entre os rios Sergipe e São Francisco, num acentuado processo de políticas públicas elaboradas sem o devido envolvimento das comunidades “beneficiadas” ou “agredidas”. Quem são seus atores sociais? A serviço de quem e quais interesses estão empenhados? Qual o papel reservado ao homem destas comunidades? São várias interrogações que nos dão o tamanho da relevância desta pesquisa para, num primeiro momento, provocar um debate e, a partir daí, apontar alguns caminhos.

A produção geográfica sobre as bacias de Sergipe e mesmo sobre a região do litoral norte tem sido bastante estimulada e pesquisada nas últimas décadas, tendo seu conjunto contribuído para a compreensão do estudo do espaço geográfico nesta região que inclui as microrregiões de Aracaju e Japaratuba, na mesorregião Leste Sergipana.

 

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Figura 4: Canal do Pomonga, povoado Touro (Barra dos Coqueiros)

Foto: Claudomir Tavares, em setembro de 2005

 

O Canal do Pomonga, na perspectiva como foi concebido ou na viabilidade de uso nos dias atuais, ainda não teve um estudo, digamos, minucioso sobre o mesmo,16 no que diz respeito a sua pesquisa por uma instituição de ensino e pesquisa, o que não significa que inexiste um conjunto de documentos e fontes primárias, e conseqüentemente secundárias para que se possa iniciar uma pesquisa sobre sua importância sócio-econômica. Assim, “é preciso fazer novas perguntas a velhos documentos e usar novos documentos para esclarecer velhas perguntas”. 17 Portanto, os desafios são enormes, mas nunca maiores do que a disposição de se debruçar sobre a investigação sobre suas razões de existência ao longo dos últimos anos.

A geograficidade do Canal do Pomonga apresenta algumas características específicas, o que a tem diferenciado do conjunto dos demais rios sergipanos. Ela tem a função de ligar duas bacias hidrográficas: Sergipe ao Japaratuba. Além disso, ele deu o status de ilha ao atual município de Barra dos Coqueiros, sendo um divisor de duas microrregiões: Aracaju e Cotinguiba. De sua função destinada à navegação para o escoamento da produção do açúcar do Vale do Japaratuba e Cotinguiba, ele desempenhou importante papel na atividade pesqueira, bem como no aproveitamento de suas águas para a produção do sal, irrigação e atualmente para a atividade da carcinicultura. Desempenhou, por que a pesca hoje praticada ao longo Canal do Pomonga, já não atende mais as expectativas de milhares de pescadores que vivem nas suas margens.

 

3. CONCLUSÃO

São várias as razões ainda que em caráter não conclusivo, para a diminuição da atividade pesqueira, a saber: desmatamento dos manguezais para a implantação de viveiros de camarão (carcinicultura), assoreamento do seu leito em função da diminuição da atividade de navegação (ou vice-versa), em alguns trechos impraticáveis, da prática clandestina e desordenada de aterros para a edificação de loteamentos, provocando sua ocupação suas margens e de seu entorno, na faixa de terra que separa o Canal do Pomonga do Oceano Atlântico no município de Barra dos Coqueiros, próximo do povoado Jatobá – este mais acentuado.

Fala-se muito na recuperação da condição de navegabilidade do rio para implantação do ecoturismo, associado ao projeto desenvolvimentista e urbanístico que tem sido defendido para a região. 18

É preciso, pois, se repensar no papel social do canal do Pomonga, sua sustentabilidade econômica, sem que para isso tenhamos que condenar seus habitantes a marginalidade em função da substituição de classes sociais, ainda que seja ela de veraneio, 19 mas que no futuro poderá fixar-se em definitivamente na faixa de terra localizada entre o Oceano Atlântico e o Canal do Pomonga.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMAZONAS, Fládson. Caranguejo ucá, um sergipano em extinção. Aracaju: 2004. Disponível em: 

CIRIBELLI, M. Metodologia da Síntese, p. 5.

FREITAS, Itamar (Org.). Produção da Pós-Graduação da UFS (1988/1998).São Cristóvão: UFS, 1998.

GOIS, José Cristian. Carcinicultura: crime ambiental em Sergipe. Pirambu, 2004. Disponível em:

PASSOS SOBRINHO, Josué Modesto dos. História Econômica de Sergipe (1850-1930). Aracaju: UFS/Programa Editorial da UFS, 1987.

SANTANA, Antônio Samarone de. Canal do Pomonga. Pirambu, 2005. Disponível em:

SANTOS, Luiz Álvares do. Viagem Imperial a Província de Sergipe. 2ª Ed. Revisada e Anotada. (Introdução e notas de Luiz Antônio Barreto). Aracaju: Degrase, 2005. pp 163-206. (No Prelo)

SANTOS, Mílton. Idéias: Globalização. Campinas: 2005. Disponível em:

SANTOS, Milton. A natureza do espaço habitado. São Paulo: HUCITEC, 1996

SEBRÃO SOBRINHO. Laudas da História do Aracaju. Aracaju: Prefeitura Municipal de Aracaju, 1954.p. 40.

SILVA, Gicélia Mendes da. O município de Pirambu e a atividade pesqueira. São Cristóvão, 1996. Dissertação (Mestrado em Geografia) NPGEO/UFS. [Prof. Orientador – SANTOS, Aldeci Figueiredo].

O Camponês Pescador. In: SANTOS, Lourival Santana et alli. Camponeses em Sergipe: Estratégias de Reprodução. Aracaju: NPGEO/UFS, 1996. pp. 145-159.

SOUTO, Paulo Heimar. Políticas públicas e organização do espaço no litoral Norte de Sergipe. São Cristóvão, 1997. dissertação (Mestrado em Geografia) – NPGEO/UFS. [Prof. Orientador – MELLO E SILVA, Sylvio Carlos Bandeira].

1 Licenciado em História. Estudante da Especialização em Gestão de Recursos Hídricos (UFS). Mestrando em Ciências da Educação (Universidad San Carlos/Assuncion). Ex-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Japaratuba. claudomir21@bol.com.br

2 Licenciada em Geografia (UNIT). Professora nas instituições Colégio CEME e Colégio Nossa Senhora da Glória (Nossa Senhora do Socorro). Carina_tavaresbispo@hotmail.com

3 Até 1925 Rio Cotinguiba.

4 SANTANA, Antônio Samarone de. Canal do Pomonga. Pirambu, 2005. Disponível em:

5

6 SEBRÃO SOBRINHO. Laudas da História do Aracaju. Aracaju: Prefeitura Municipal de Aracaju, 1954.p. 40.

7 As obras do canal tiveram início na administração de Dr. José Antonio de Oliveira e Silva (1852), sendo concluído na administração do Dr. Inácio Joaquim Barbosa (1854).

8 Casas comerciais que abasteciam aquelas comunidades.

9 O povoado Canal São Sebastião, cujo padroeiro dá nome à comunidade, incorporou a procissão de Bom Jesus dos Navegantes que fora o padroeiro do antigo povoado Porto Grande (hoje em ruínas, restando apenas partes das paredes da Igreja), por isso as imagens dos dois santos eram conduzidas pelas águas, justificando a ligação destas comunidades com o rio e com a atividade pesqueira.

10 , Presidiu Sergipe de 7 de março de1859 a 15 de agosto de1860

11 Um dos engenheiros contratados pela Província, fez a planta do Canal do Pomonga

12 GOIS, José Cristian. Carcinicultura: crime ambiental em Sergipe. Pirambu, 2004. Disponível em:

13 AMAZONAS, Fládson. Caranguejo ucá, um sergipano em extinção. Aracaju: 2004. Disponível em:

14 SANTOS, Mílton. Idéias: Globalização. Campinas: 2005. Disponível em:

15 SANTOS, Milton. A natureza do espaço habitado. São Paulo: HUCITEC, 1996.

16 FREITAS, Itamar (Org.). Produção da Pós-Graduação da UFS (1988/1998).São Cristóvão: UFS, 1998.

17 CIRIBELLI, M. Metodologia da Síntese, p. 5.

18 Leia-se Rodovia César Franco, que ligou definitivamente a Barra dos Coqueiros a Pirambu, a Ponte da Amizade sobre o Rio Japaratuba, ambas inauguradas em 1992 e Ponte Aracaju-Barra dos Coqueiros, prevista para ser inaugurada em 2006.

19 O turista que edifica sua casa de praia, mas não fixa residência, deslocando-se para a localidade apenas nos finais de semana, feriados e temporadas de verão.

fonte: https://200.17.141.66/esea/index.php/BR/list/41-a-importancia-socio-economica-do-canal-do-pomonga

 



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